sábado, 12 de março de 2011

E se eu contar uma historia?

sábado, 12 de março de 2011
Não tenho qualquer tipo de desculpa para não ter postado + cedo. Até porque, na realidade, já tinha escrito e decidido qual a carta a postar...
O atraso acabou a dever-se principalmente ao meu receio em relação a esta carta.
Não só é num ponto de vista ao qual não estou habitada, como é a 1ª vez que escrevo sobre este assunto, logo qualquer comentário ou correcção seria extremamente apreciado :)

Tenho o habito de andar a divagar antes da carta em si, mas, na verdade, o único assunto sobre o qual me apetece discorrer e as saudades =/
Hoje acordei com um nostalgia tremenda, principalmente direccionada aos amigos... Tenho saudades de amigos, de momentos com eles e de os ter + perto da vista e, portanto do coração.
Não quer dizer que não goste dos novos amigos ou dos excelentes momentos que passo com eles (*.*).
Muito simplesmente hoje apetecia-me que (quase) nada tivesse mudado nas minhas + recentes ou + antigas amizades.

Mas indo para a carta que não tem absolutamente nada a ver com isto, o meu único comentário acaba por ser que mantenham a mente e a alma aberta:


Ele acordou no escuro.

Havia silêncio e dor.

E aquele cheiro intoxicante que o sufocava até ele tentar não conseguir respirar.

Havia memórias. Cada entalhe na parede em que se apoiava contava-lhe uma história. E ele desejava não sentir, para poder esquecer todos aqueles entalhes na parede, na sua mente e no seu corpo.

Quando acordou não tinha estado a dormir.

Não via a luz há tanto tempo que já pensava se o mundo não viveria mergulhado na escuridão.

Tal como ele estava mergulhado na dor agora.

Começava na ponta dos seus pequenos e ensanguentados dedos (os entalhes foram tão graciosamente gravados) e terminava no seu subdesenvolvido pequeno coração.

Algumas vezes a sua mente vagueava, divagava e perdia-se, até já não restarem quaisquer pensamentos coerentes, se é que alguma vez estes teriam existido.

Algumas vezes ele duvidava que existisse alguma coisa.

Houve uma vez que viu uma borboleta e pensou que era o seu anjo da morte para o levar.

Mas ele nem sequer sabia o que era a fome, porque nunca havia estado saciado.

Tal como não sabia o que era a alegria, pois apenas conhecia sofrimento (tanto sangue escorreu naquela parede).

O seu amargo coraçãozinho não sabia o que era a vida, porque nunca tinha nascido.

Por vezes ele tentava fugir daquele pesadelo (se bem que também nunca tivera sonhos), imaginando outra – coisa – qualquer. E era aí que ele se perdia… Só se pode imaginar aquilo que se conhece, e aqueles adoráveis olhos mortiços nunca puderam observar nada para além de um quarto forrado de entalhes (e se não fossem todos dele). Quando ele queria escapar, apenas podia pensar em sangue, dor, gritos, numa corrente apodrecida no chão e num frágil tornozelo, e escuridão.

Não admira que ele não soubesse o que eram sonhos.

Não admira que ele não soubesse o que era a realidade.

Repentinamente, algo se alterou na toxicidade do quarto e no silêncio da escuridão.

Ele afastou-se da parede e deitou-se. Talvez se ela pensasse que ele estava morto…

Se ele soubesse o que eram desejos pediria para que ela trouxesse a morte e não a perversão do seu desespero.

Mas ele não sabe o que são estrelas cadentes e ela não lho vai conceder.

Ouve-se um ranger repentino quando a porta se entreabre, para a deixar entrar e, com ela, entra a rastejar um nevoeiro de puro delírio.

Houve um instante em que ele pensou que vira luz, mas era apenas o brilho malicioso do olhar daquele monstro. Porque sim, se ele soubesse o que são monstros, não hesitaria em apontá-la como um.

Mas ele limita-se a apanhar um pedaço de pão, que ela lhe atira, tão pequeno, sujo e apodrecido como ele.

Tal com o se limitou a deixá-la arrastá-lo até onde a corrente permitia.

A dor era como o veneno nas palavras dela, que ele não compreendia, ia-se insinuando nos seus pesadelos reais, afogando-o no sangue, que afinal não vinha só dos entalhes, até o deixar tão fragilizado e maltratado como o seu coração.

A última coisa que ele ouviu antes de sentir deslizar a sua consciência, se ele tivesse alguma, foi um riso de júbilo macabro.

Há um menino que não sabe que o riso significa felicidade e não tortura.

Ele acordou no escuro (e não tinha estado a dormir).

E havia silêncio e dor.

O cheiro a sangue, o seu sangue, intoxicava-o, enquanto ele tentava respirar por entre soluços e lágrimas e ele bebe-as, porque tem demasiada sede, tal como beberá a água pútrida que escorre dos canos.

Mas agora havia uma tarefa mais urgente.

O silêncio foi interrompido pelo som de pequenas unhas a quebrarem-se contra uma já muito marcada parede (e surgiu mais uma história)

No entanto, o mais assustador é o silêncio dentro da mente da inocência. Não há nada para além do vazio.

E o vazio é aterrador.

Ela também tem medo do vazio. Ela vocifera, mesmo sem ele a compreender, que o vazio começou com ele. E ela arranha-lhe os olhos e grita-lhe, apesar de ele apenas compreender a linguagem do sofrimento.

Mais uma história?

Houve um pequeno não – amado rapazinho que entalhou tão delicadamente a sua mágoa que acabou enroscado num canto, numa pequena bolinha, a tremer com soluços vazios, adormecendo ao ver a sua verdadeira borboleta.

Só para que conste, debati-me com uma luta interna gigantesca se deveria ser mais especifica, ou não, na natureza da violência. Acabei por me decidir + pelas metáforas, ate porque acho que os sentimentos são + importantes que as imagens.

Tal como já tinha referido, adoraria quaisquer comentários mesmo que se limitem a dizer mal ;)

Btw o rapazinho chama se Oskar e esta neste momento, calmamente, a ler um livro e vai provavelmente chatear-se quando descobrir que postei a historia dele ;D
 
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